De todas as poesias que eu não escreví
Existe uma que eu mais queria ter escrito
Esta, a sem metáfora alguma
A que anda sem rima pelo labirinto do meu peito
A irmã mais velha das línguas
Que veio de brinde com os corações das mulheres e dos homens
E dos bichos, e das plantas, das inúmeras flores e do mar
Essa que faz soar mais alto, mais forte e mais belo
Tudo que pode soar alto e forte e belo
A que foge escondida das escolas e rasga os livros de ortografia
E que não tem decote em que não esteja
A que nos representava antes da democracia
E que nos casava antes da religião
Essa, sim, essa!
A que torna engano cada palavra
E enganosa cada canção
Pois a palavra não é nada!
E entender as coisas sem os nomes das coisas
É chupar o verdadeiro sentido da vida
Me perdoem os filósofos
Um tempo atrás eu era como vocês
Um homem de sábias palavras
Hoje eu apenas me sento sozinho
Olho as estrelas e penso sobre minha poesia não escrita:
Extinto esse mundo, que outros mundos ela deverá criar?
E extinta essa raça? E extinta essa língua?
As horas passam e eu não a escrevo
Eis que é esta
A inescrevível poesia da emoção