Será que eu sou o homem da metrópole
embora não tenha nascido lá?
ou será que eu sou o homem do interior
embora não queira ficar aqui?
Já não caibo na minha vila
mas a cidade grande ainda não cabe em mim
e meu tamanho intermediário
me causa um constante desconforto
Saio pra rua, vou pro ponto de ônibus
os bebâdos no sinal
são os mesmos bêbados da semana passada
E as pessoas no ônibus são as mesmas
da semana passada
Com os mesmo problemas
de três anos atrás
essas pessoas sabem mais da vida
dos vizinhos do que das vidas
delas mesmas
Será que eu sou daqui?
Não sei, acho que eu sou o menino
que vende carros naquela esquina
De repente me pego olhando pra um mapa
como um faminto olha pra um cardápio
Ah que vontade de ver o mundo!
Como se houvesse além das fronteiras
que eu conheço
alguma cor nova que só quem viu
sabe qual é
Eu ouví falar coisas boas de Montreal,
Coisas boas sobre Montevidéu, Amsterdam,
Rio de Janeiro, Praga e Bruxelas
Mas eu não sou desses lugares
E nem dos lugares onde estou
Acho que só quero um cantinho
Minha parceira, um trabalho bom
Sem ser melhor do que ninguém
Volto pra casa
Aperto o passo como bom metropolitano
Mas olho as estrelas
Como o caipira irrecuperável que eu sou
Quem dera eu fosse criança
pra não ter que pensar nisso tudo
Pensar nisso tudo é
que tira um pouco
a graça das coisas
E no final das contas
todo caminho vai dar em nada
e o importante mesmo
é saber estar de passagem
Jota Teles